segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Querido Amigo



Não é que me incomode. Só me afeta. Não sei de que forma, nem sobre que aspecto, mas me afeta. Me dá uma borboletação estranha na boca do estômago, faz meus olhos lacrimejarem. Mas mesmo assim, não me incomoda. Só me afeta.

Também não me alegra. Só me faz sorrir, de vez em quando. Me faz cantarolar musiquinhas melosas, me faz passar horas em frente ao espelho arrumando meu cabelo. Mas, não. Não me alegra. Meus sorrisos diante dessa situação são vazios de significado, penso eu. No máximo, escondem uma velada melancolia por você ser você, e eu ser só eu. Talvez eles sirvam só pra dissimular a minha frustração por nossas vidas serem como retas reversas não-coplanares: nunca se encontram, nunca se encontrarão. Meus sorrisos? São sorrisos ocos.

Estou tentando fechar as portas do meu coração para mantê-lo seguro, e você não está ajudando. Não consigo mais me concentrar em nada, pego-me sonhando com você dia e noite. Seguro minhas mãos a toda hora para não discar seu número só para ouvir sua voz. Passo dias inteiros travando uma batalha acirradíssima com minha mente para mantê-la longe daquelas conversas, daquelas fotos, daqueles olhares, daqueles e-mails. Já flagrei meus pés caminhando em sua direção como se tivessem vontade própria. E não posso, não posso mais suportar isso. Não é que me incomode. Só me afeta.
Queria que isso acabasse logo. Sei que é uma enorme burrice. Sei que essa história de 'destinos traçados na maternidade' é pra gente bonita, bem afeiçoada. Sei que príncipes montados num cavalo branco vão buscar princesas em seus castelos, e não meninas desengonçadas em seus sobradinhos em cidadezinhas do interior. Não desejo o que não pode ser meu. Então, não posso desejar estar com você, não posso. Mas, o que fazer, quando parece que estou trilhando um caminho em direção a um enorme precipício, onde me apaixonar por você parece ser tão inevitável quanto respirar? Demorei pra pensar em uma solução. E parece que só há uma possível: ir embora.

Estou partindo no próximo ônibus para a Terra Onde Não Há Sonhos, passando antes alguns dias no Vale da Saudade e na Montanha das Lágrimas. Não vou dizer que vai doer mais em mim que em você porque não me julgo importante o suficiente para que minha partida lhe cause alguma dor. Por mais que meu destino pareça triste, acredite: é mais seguro.

Essa carta, obviamente, só vai ser lida por você quando eu já estiver bem longe. Não quero te ver antes de ir. Quando o adeus demora, a dor no coração se expande. Estou levando na minha bolsa os seus sorrisos, sua personalidade cativante, seus olhos penetrantes, sua voz calorosa, para me alimentarem antes de minha morte. Peço que não me entenda mal: não é que essa situação me incomode. Ela só me afeta. De uma forma que eu preferia que não afetasse.

Todos os beijos que eu quis lhe dar, mas não pude,

daquela que mais que qualquer coisa desejou ser sua.

PS.: Meu coração espera que você sinta minha falta, embora minha mente saiba que isso é impossível. Mas, por favor, se meu coração estiver certo, não hesite em obedecer ao seu! Se você sentir mesmo minha falta, corra atrás daquele ônibus e não descanse até sair de lá com meu coração em suas mãos e com meu corpo em seus braços! Por favor, não permita que eu morra!

Doth Assis

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